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Olhe no horizonte e encontre a Pedra da Galé. Os marisqueiros dizem que é lá que se escondem os maiores e melhores percebes. Agora, olhe para o chão. Há história debaixo dos seus pés! Incrustados nas rochas destas arribas, milhares de fragmentos de corais e pequenos invertebrados como estrelas e ouriços-do-mar escondem segredos milenares!
A Pedra da Galé
A Pedra da Galé é o local de eleição para os pescadores da Carrapateira. “É aquela pedra e não outra”, dizem os homens da aldeia, apesar de existirem muitos outros rochedos. Dizem que é também nesta pedra que se escondem os melhores percebes.
Mas a fama da Pedra Galé já vem de há muitos séculos. Era apenas uma rocha imponente que se erguia ao largo da Carrapateira, nas águas do Oceano atlântico, quando a galé espanhola “La Condesa”, vinda das Índias Ocidentais e estando à deriva devido a um forte temporal embateu nela. O navio despedaçou-se, afundou e com ele desapareceu todo o espólio constituído por ouro, prata, pedras e artilharia em bronze. Corria o ano de 1555. Desde então, a rocha é conhecida como a Pedra da Galé.
Como é um local de fundo rochoso, abundante em crustáceos, constitui umas das áreas preferidas dos pescadores artesanais locais. A apanha de marisco, especialmente a do percebe, constitui uma atividade com um grande impacto económico e social para as comunidades da Costa Sudoeste Alentejana e da Costa Vicentina. A apanha dos percebes é extremamente perigosa. Os marisqueiros descem as falésias abruptas, trepam à força de braços as cordas de segurança que outro companheiro - que permanece no topo da arriba – tem debaixo de olho, ao mesmo tempo que lutam contra a força das águas revoltas. Os segredos desta arte passam de geração em geração, tratando-se de uma atividade tradicional que conta com as mesmas ferramentas de antigamente. Os percebeiros ou marisqueiros apanham este crustáceo com a ajuda de uma arrilhada – Instrumento feito de um cabo de madeira, com uma ponta de ferro que separa o percebe da rocha – e um bornal ou saco de rede. O percebe, de nome científico pollicipes, é morfologicamente constituído por uma parte superior – o capítulo ou unha – e uma parte inferior – o pedúnculo. É um ser hermafrodita, incubando os ovos no seu interior até à eclosão larvar.
Salvaguarda a época do defeso, a apanha de percebe faz-se quando o mar deixa. No inverno é raro o dia em que mariscadores se lançam ao mar e às pedras, mas no verão quase todos os dias são bons para esta atividade.
Sendo uma das maiores iguarias gastronómicas da região, a par das lapas, burgaus, mexilhões, moreia frita, navalheiras, e choco frito, os restaurantes locais - dos mais modestos aos mais conhecidos - servem este afamado petisco com intenso sabor a mar. O que os fósseis dizem da Terra Mas se os crustáceos vivos fazem as delícias da gastronomia local, a verdade é que também há corais, animais marinhos, bivalves, moluscos, conchas e ouriços-do-mar sedimentados nas altas arribas da Pontal da Carrapateira e que devido à erosão do vento estão agora expostos. Incrustados nas rochas sedimentares, os fósseis provam que, em tempos anteriores à existência do Homem, o Planeta Terra foi povoado por espécies de animais e plantas hoje extintas.
As informações recolhidas nas jazidas fossilíferas permitem-nos aferir da riqueza da biodiversidade e compreender a história da Vida. O fóssil é o resto de um organismo, ou os vestígios da sua atividade, que viveu num determinado momento da história da Terra e que se encontra preservado nos estratos das rochas sedimentares. A evolução da vida na Terra pode ser decifrada através do estudo dos fósseis e a Paleontologia é a ciência natural que se ocupa desse estudo.
Tudo começou há muitos milhões de anos, mesmo antes do período Jurássico, quando a Carrapateira era uma ilha com uma costa coralífera. Durante a Era Paleozóica (entre 540 milhões de anos a 250 milhões de ano atrás), numa altura em que havia dois supercontinentes, Portugal fazia parte do hemisfério sul e grande parte do nosso território estava coberto por água. Neste período foram depositados sedimentos finos no fundo mar que hoje se encontram transformados em xistos e grauvaques. Depois disso, muitos outros fenómenos naturais ocorreram. Os dois continentes colidiram formando um único continente gigante, a Pangeia, e o mar recuou. E novas mudanças ocorreram. O continente gigante fragmentou, o mar voltou à costa e outros sedimentos voltaram a ser depositados e sedimentados. As alterações do nível do mar estão diretamente relacionadas com as mudanças climáticas que a Terra sofreu ao longo dos últimos milhares de anos.
Durante os períodos Jurássico (entre 199 e 155 milhões de anos atrás) e Cretácio (entre 145 e 65 milhões de anos atrás), a região que corresponde ao Algarve já estava no hemisfério norte, tinha um clima mais quente, húmido e estava mais próxima do Equador. Daí que os fósseis encontrados nesta zona sejam semelhantes aos que existem nos atuais mares tropicais. Há estudos que mostram que os sedimentos de idade jurássica estão bem representados no afloramento Mesozóico da Carrapateira, constituídos por mais de 3000 metros de sedimentos essencialmente marinhos. A Baía das Três Angras corresponde a uma faixa costeira formada pelas arribas do Pontal da Carrapateira, e compreende uma sequência sedimentar constituída por margas e calcários, durante o Jurássico Superior, com base em macrofauna, principalmente de corais.
Última atualização: 20-07-2025
Localização (Lat., Lon.): 37.191276, -8.929463